Alacid Nunes quebra o silêncio

https://estadaoparaense.blogspot.com/2014/05/alacid-nunes-quebra-o-silencio.html
Nos 50 anos de 1964, o ex-governador faz importantes revelações para a
história política do Pará, mesmo sem citar todos os nomes dos envolvidos.

Alacid Nunes foi protagonista no Pará dos anos 60 aos 80, quando começou a se retirar da política
Na manhã de 8 de maio deste ano, depois de haver assistido à cerimônia comemorativa do Dia da Vitória, na Praça da Bandeira, o tenente-coronel Alacid da Silva Nunes se preparava para ir embora, quando tropeçou, caiu e bateu a cabeça. Aos 89 anos, perto de celebrar, no dia 25 de novembro, 90 círios, o ex-governador foi atendido em uma ambulância que ali estava para atender emergências, recebeu os primeiros-socorros e, por iniciativa do General que presidia a cerimônia, um militar acompanhou-o até sua casa. A esposa e companheira há 55 anos, dona Marilda Nunes, que o estado conhece como a eterna primeira-dama, e a quem ele chama, carinhosamente, de "mãe", ficou cuidando do ferimento, coisa leve, que não deve deixar nenhuma cicatriz na fronte do homem que, por duas vezes, governou o Pará, depois de haver sido eleito, por via indireta, prefeito de Belém e outras duas, pela vontade do povo, deputado federal.
Daqui a alguns dias, nada restará a não ser memória de um acidente banal. Na vida política e na que experimentou, nos quartéis, não houve queda e as desavenças abriram marcas menos visíveis do que as que o tombo provocou. "O Alacid não guarda mágoa de nada. Eu guardo, mas ele não", garante dona Marilda. Sentado entre mim e ela, assente. Balança a cabeça, confirmando as palavras da esposa. Seu coração não tem espaço para esse tipo de sentimento. "Eu não guardo rancor nem daqueles que me fizeram muito mal. Não só a mim, mas, sobretudo, ao Pará".
Os poetas do simbolismo entraram para a história porque, sem dizer, diziam; e entre referir e sugerir, preferiam a segunda opção. Em alguns momentos dessa entrevista, a primeira, de longo curso, concedida depois de mais de meio século de silêncio, o ex-governador se permite omitir nomes, mas, quando evita nominar alguém, seu silêncio se torna mais eloquente do que se os pronunciasse. "Se, quando eu fui duramente atacado, não respondi, por que agora, meio século depois, eu iria responder"? Bem à moda dos poetas provençais, ou, seguindo a regra de Fernando Pessoa, que, por sua vez, aprendeu-a de Camões, em não dizendo, diz. E em dizendo, cala-se. A esfinge de olhos verde-água sorri. Não há mistérios a decifrar.
Alacid Nunes foi protagonista no Pará dos anos 60 aos 80, quando começou a se retirar da política
Na manhã de 8 de maio deste ano, depois de haver assistido à cerimônia comemorativa do Dia da Vitória, na Praça da Bandeira, o tenente-coronel Alacid da Silva Nunes se preparava para ir embora, quando tropeçou, caiu e bateu a cabeça. Aos 89 anos, perto de celebrar, no dia 25 de novembro, 90 círios, o ex-governador foi atendido em uma ambulância que ali estava para atender emergências, recebeu os primeiros-socorros e, por iniciativa do General que presidia a cerimônia, um militar acompanhou-o até sua casa. A esposa e companheira há 55 anos, dona Marilda Nunes, que o estado conhece como a eterna primeira-dama, e a quem ele chama, carinhosamente, de "mãe", ficou cuidando do ferimento, coisa leve, que não deve deixar nenhuma cicatriz na fronte do homem que, por duas vezes, governou o Pará, depois de haver sido eleito, por via indireta, prefeito de Belém e outras duas, pela vontade do povo, deputado federal.
Daqui a alguns dias, nada restará a não ser memória de um acidente banal. Na vida política e na que experimentou, nos quartéis, não houve queda e as desavenças abriram marcas menos visíveis do que as que o tombo provocou. "O Alacid não guarda mágoa de nada. Eu guardo, mas ele não", garante dona Marilda. Sentado entre mim e ela, assente. Balança a cabeça, confirmando as palavras da esposa. Seu coração não tem espaço para esse tipo de sentimento. "Eu não guardo rancor nem daqueles que me fizeram muito mal. Não só a mim, mas, sobretudo, ao Pará".
Os poetas do simbolismo entraram para a história porque, sem dizer, diziam; e entre referir e sugerir, preferiam a segunda opção. Em alguns momentos dessa entrevista, a primeira, de longo curso, concedida depois de mais de meio século de silêncio, o ex-governador se permite omitir nomes, mas, quando evita nominar alguém, seu silêncio se torna mais eloquente do que se os pronunciasse. "Se, quando eu fui duramente atacado, não respondi, por que agora, meio século depois, eu iria responder"? Bem à moda dos poetas provençais, ou, seguindo a regra de Fernando Pessoa, que, por sua vez, aprendeu-a de Camões, em não dizendo, diz. E em dizendo, cala-se. A esfinge de olhos verde-água sorri. Não há mistérios a decifrar.